Theatro Municipal do Rio de Janeiro 1913
Theatro Municipal do Rio de Janeiro, 1913, linda publicação
(PHOTO MUSSO), o livro pesa aproximadamente dois quilos, capa em tecido vermelho
com relevo almofadado do logotipo e baixo relevo do título em dourado, interior
em papel decorado dourado e couché com impressão em 3 cores (vermelho, cinza e
preto). Fotos dos ambientes do teatro, projetos, detalhes, mobiliário, projetos
de elétrica, ventilação e refrigeração, segurança contra incêndio, detalhes dos
desenhos de Eliseu Visconti, esculturas de Rodolfo Bernadelli e Verlet e foto
autografada do Construtor Francisco de Oliveira Passos. Todo o texto de João do
Rio (João do Rio, pseudônimo de João Paulo Emílio
Cristóvão dos Santos Coelho Barreto, jornalista, cronista, tradutor e
teatrólogo brasileiro) com tradução lateral em francês.
A primeira década do século XX, no Rio de Janeiro, foi um período de grandes mudanças sociais e arquitetônicas. Tratava-se da Belle Époque carioca, inaugurada com a administração do prefeito Pereira Passos. À época, a escolha do prefeito do então Distrito Federal não cabia aos eleitores da cidade, tratando-se de uma nomeação de prerrogativa exclusiva do presidente da República. Rodrigues Alves tencionava renovar a infraestrutura do Rio de janeiro, como parte de uma política de valorização da agricultura cafeeira. Seu intuito era tão somente tornar a cidade capaz de escoar, por seu porto, de maneira eficiente, parte dos carregamentos de café vindos de São Paulo e desembarcados na Estrada de Ferro Central do Brasil.
É para tanto que nomeia o engenheiro e urbanista Pereira Passos (1836-1913) para o cargo de prefeito, em 1902. Passos, cuja carreira remontava ao Segundo Império, tinha outros planos, visando utilizar a nova posição administrativa para implantar sua tão sonhada reforma urbana, muito próxima daquela executada pelo Barão Georges-Eugène Haussman (1809-1891), quando esteve à frente da prefeitura de Paris, em meados do século XIX. A reforma urbana do Rio de Janeiro, apelidada de “Bota-abaixo”, não pode, entretanto, ser resumida à mera execução de um projeto estético “europeizante”, que tencionasse tão somente transformar o Rio na Paris dos trópicos. A abertura de largas avenidas, como a Avenida Central (futura Av. Rio Branco), por exemplo, se por um lado objetivava emular os bulevares franceses, por outro se associava à preocupação com a saúde pública, sendo uma forma de criar canais de ventilação no Centro da cidade, ainda flagelado com os miasmas podres vindos da região portuária.
O desmando público, em um período muito longe de nossos dias (nos quais o direito à moradia é uma franquia constitucional, a ser garantida pelo Estado brasileiro, de acordo com a Carta de 1988), redundou na remoção forçada das famílias que então habitavam os cortiços do Centro, mas viu também consolidar-se a preocupação de unificar a cidade em um todo orgânico, sem desprezar as Zonas Norte e Oeste. Passos seria ainda o primeiro governante do continente americano a propor a construção de casas populares, na forma das “vilas operárias”, a serem entregues às famílias que tivessem suas casas demolidas. O projeto, porém, não teve continuidade nas gestões seguintes, e grande parte dessas famílias acabou por mudar-se para os morros, iniciando o ciclo de expansão das favelas.
Além de abrir as Avenidas Beira Mar, Maracanã, Atlântica, Passos e Central, rebatizada de “Rio Branco” em 1912, após a morte do diplomata, e alargar ruas como a da Carioca, da Uruguaiana e a Sete de Setembro, Pereira Passos se notabilizaria por iniciar a construção do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, em 1905. Fruto de uma campanha movida pelo dramaturgo Arthur Azevedo (1855-1908), pela criação de um teatro nacional que fosse sede de uma companhia municipal, a criação de semelhante estabelecimento foi estipulada por lei em 1894, só saindo do papel a partir da reforma urbanística do Rio de Janeiro, em 1903. Neste ano, foi aberta concorrência para se determinar qual seria o arquiteto responsável pelo projeto, causando comoção o fato de haverem dois ganhadores, empatados no primeiro lugar: o projeto “Isadora” do arquiteto francês Albert Guilbert, e o projeto “Áquila” de autoria de Francisco de Oliveira Passos, filho do prefeito. Ambos acabariam por ser fundidos em um só.
O modelo arquitetônico do prédio, não sendo uma cópia, era inspirado na Ópera de Paris, concluída em 1875, prédio emblemático do século XIX, construído num período de treze anos. O projeto do Teatro Municipal do Rio de Janeiro negava a tradição dos prédios coloniais, como a Câmara de Vereadores, que ficaria à sua frente, abraçando um estilo inovador, que mesclava elementos neoclássicos, barrocos e modernos, como o uso de ferro fundido. Realizadas num período recorde, as obras foram finalizadas em quatro anos e meio, já durante a gestão do prefeito Serzedelo Correa. A decoração do teatro coube a alguns dos maiores nomes da arte brasileira de então: Rodolpho e Henrique Bernardelli (irmãos), Rodolpho Amoedo e Eliseu Visconti, a quem foi reservada a execução da pintura da cúpula, que ficaria sobre a plateia, intitulada “A dança das horas”. Na sua abertura, no dia 15 de julho de 1909, que contou com as presenças do presidente da República Nilo Peçanha e da compositora Chiquinha Gonzaga, o poeta Olavo Bilac leu um discurso de sua autoria, em que chamava o Rio de Janeiro de “cidade amada” e descrevia o seu novo Teatro Municipal como “uma das mais belas joias da tua coroa de rainha”. Marca de seu tempo e parte integrante do espaço carioca, o Teatro Municipal seria objeto de análise de João do Rio (1881-1921), um dos maiores cronistas da vida social e cultural do Rio, na Primeira República. texto: Alexandre Enrique Leitão
Este livro faz parte do acervo da BAUPAL.
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