18 maio 2013

Remoção forçada das famílias que habitavam os cortiços do Centro, para construção de bulevar.

Theatro Municipal do Rio de Janeiro 1913

Theatro Municipal do Rio de Janeiro, 1913, linda publicação (PHOTO MUSSO), o livro pesa aproximadamente dois quilos, capa em tecido vermelho com relevo almofadado do logotipo e baixo relevo do título em dourado, interior em papel decorado dourado e couché com impressão em 3 cores (vermelho, cinza e preto). Fotos dos ambientes do teatro, projetos, detalhes, mobiliário, projetos de elétrica, ventilação e refrigeração, segurança contra incêndio, detalhes dos desenhos de Eliseu Visconti, esculturas de Rodolfo Bernadelli e Verlet e foto autografada do Construtor Francisco de Oliveira Passos. Todo o texto de João do Rio (João do Rio, pseudônimo de João Paulo Emílio Cristóvão dos Santos Coelho Barreto, jornalista, cronista, tradutor e teatrólogo brasileiro) com tradução lateral em francês.
A primeira década do século XX, no Rio de Janeiro, foi um período de grandes mudanças sociais e arquitetônicas. Tratava-se da Belle Époque carioca, inaugurada com a administração do prefeito Pereira Passos. À época, a escolha do prefeito do então Distrito Federal não cabia aos eleitores da cidade, tratando-se de uma nomeação de prerrogativa exclusiva do presidente da República. Rodrigues Alves tencionava renovar a infraestrutura do Rio de janeiro, como parte de uma política de valorização da agricultura cafeeira. Seu intuito era tão somente tornar a cidade capaz de escoar, por seu porto, de maneira eficiente, parte dos carregamentos de café vindos de São Paulo e desembarcados na Estrada de Ferro Central do Brasil.




  É para tanto que nomeia o engenheiro e urbanista Pereira Passos (1836-1913) para o cargo de prefeito, em 1902. Passos, cuja carreira remontava ao Segundo Império, tinha outros planos, visando utilizar a nova posição administrativa para implantar sua tão sonhada reforma urbana, muito próxima daquela executada pelo Barão Georges-Eugène Haussman (1809-1891), quando esteve à frente da prefeitura de Paris, em meados do século XIX. A reforma urbana do Rio de Janeiro, apelidada de “Bota-abaixo”, não pode, entretanto, ser resumida à mera execução de um projeto estético “europeizante”, que tencionasse tão somente transformar o Rio na Paris dos trópicos. A abertura de largas avenidas, como a Avenida Central (futura Av. Rio Branco), por exemplo, se por um lado objetivava emular os bulevares franceses, por outro se associava à preocupação com a saúde pública, sendo uma forma de criar canais de ventilação no Centro da cidade, ainda flagelado com os miasmas podres vindos da região portuária.
  O desmando público, em um período muito longe de nossos dias (nos quais o direito à moradia é uma franquia constitucional, a ser garantida pelo Estado brasileiro, de acordo com a Carta de 1988), redundou na remoção forçada das famílias que então habitavam os cortiços do Centro, mas viu também consolidar-se a preocupação de unificar a cidade em um todo orgânico, sem desprezar as Zonas Norte e Oeste. Passos seria ainda o primeiro governante do continente americano a propor a construção de casas populares, na forma das “vilas operárias”, a serem entregues às famílias que tivessem suas casas demolidas. O projeto, porém, não teve continuidade nas gestões seguintes, e grande parte dessas famílias acabou por mudar-se para os morros, iniciando o ciclo de expansão das favelas.
  Além de abrir as Avenidas Beira Mar, Maracanã, Atlântica, Passos e Central, rebatizada de “Rio Branco” em 1912, após a morte do diplomata, e alargar ruas como a da Carioca, da Uruguaiana e a Sete de Setembro, Pereira Passos se notabilizaria por iniciar a construção do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, em 1905. Fruto de uma campanha movida pelo dramaturgo Arthur Azevedo (1855-1908), pela criação de um teatro nacional que fosse sede de uma companhia municipal, a criação de semelhante estabelecimento foi estipulada por lei em 1894, só saindo do papel a partir da reforma urbanística do Rio de Janeiro, em 1903. Neste ano, foi aberta concorrência para se determinar qual seria o arquiteto responsável pelo projeto, causando comoção o fato de haverem dois ganhadores, empatados no primeiro lugar: o projeto “Isadora” do arquiteto francês Albert Guilbert, e o projeto “Áquila” de autoria de Francisco de Oliveira Passos, filho do prefeito. Ambos acabariam por ser fundidos em um só.
  O modelo arquitetônico do prédio, não sendo uma cópia, era inspirado na Ópera de Paris, concluída em 1875, prédio emblemático do século XIX, construído num período de treze anos. O projeto do Teatro Municipal do Rio de Janeiro negava a tradição dos prédios coloniais, como a Câmara de Vereadores, que ficaria à sua frente, abraçando um estilo inovador, que mesclava elementos neoclássicos, barrocos e modernos, como o uso de ferro fundido. Realizadas num período recorde, as obras foram finalizadas em quatro anos e meio, já durante a gestão do prefeito Serzedelo Correa. A decoração do teatro coube a alguns dos maiores nomes da arte brasileira de então: Rodolpho e Henrique Bernardelli (irmãos), Rodolpho Amoedo e Eliseu Visconti, a quem foi reservada a execução da pintura da cúpula, que ficaria sobre a plateia, intitulada “A dança das horas”. Na sua abertura, no dia 15 de julho de 1909, que contou com as presenças do presidente da República Nilo Peçanha e da compositora Chiquinha Gonzaga, o poeta Olavo Bilac leu um discurso de sua autoria, em que chamava o Rio de Janeiro de “cidade amada” e descrevia o seu novo Teatro Municipal como “uma das mais belas joias da tua coroa de rainha”. Marca de seu tempo e parte integrante do espaço carioca, o Teatro Municipal seria objeto de análise de João do Rio (1881-1921), um dos maiores cronistas da vida social e cultural do Rio, na Primeira República.  texto: Alexandre Enrique Leitão















Este livro faz parte do acervo da BAUPAL.


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